Sou professora, mãe de um menino com Síndrome de Asperger e durante todo o processo de busca por diagnóstico e pelo tratamento adequado pra ele, eu tenho razões para relatar inúmeras histórias. Em busca de orientações acerca do tema AUTISMO, muitas pessoas me procuram para ouvir meus relatos. Então resolvi salvar essa entrevista, que dei para universitários, como subsídios para trabalhos de monografias e espero que meu relato sirva de orientação para alguém,
Perguntas:
1. Como você descobriu que seu filho tinha AUTISMO?
Na
verdade eu descobri por acaso, quando percebi que ele não falava palavra alguma
já com dois anos de idade, apenas apontava para os objetos e nos conduzia pela
mão, quando queria alcançá-los. Durante uma consulta rotineira ao pediatra, fui
orientada a procurar um fonoaudiólogo. Fiz o que fui orientada a fazer e o fono,
que já tinha uma experiência com crianças autistas, depois de uma sequência de
terapias, percebeu e me orientou a procurar um neuropediatra na capital, pois
esse profissional não tinha aqui na cidade. Desde então, fiz uma verdadeira
peregrinação viajando daqui para a capital em busca de terapeutas. Quando ele
completou 3 anos e dois meses, recebi o diagnóstico. Posso dizer que foi
rápido, pois o meu filho tem Síndrome de Asperger, um espectro do Autismo que
apresenta muitas semelhanças com o mesmo e tal diagnóstico é facilmente desenvolvido
através de observação de comportamentos.
2. Como você lida com as dificuldades na escola?
Sempre
procurei matricular meu filho em escolas de pequeno porte. Isso porque a
maioria dos autistas (e não diferente do Aspie) tem sensibilidade sensorial, desse
modo, todo ambiente cheio, movimentado e barulhento lhe incomoda e muito.
Pensei que uma escola menor seria melhor para ele e para quem pudesse lidar com
ele. Antes de começar as aulas numa escola eu procuro a direção/coordenação
para orientá-los quanto ao comportamento, as dificuldades e a maneira de
conhecer para poder lidar com essas dificuldades, sempre deixando a escola
tranquila com relação à comunicação entre a família, respondendo todas as
dúvidas e alertando-os quanto as suas “crises”. Com essa parceria, a escola
sempre conseguiu trabalhar com ele sem problemas e o mais importante de tudo,
sempre me preocupei em mostrar muito mais do que suas limitações, sempre
procurei mostrar suas habilidades e a escola (desde a creche) incentivou,
valorizou e explorou essas habilidades. O resultado? Está aí. Hoje meu filho já
superou muitas limitações.
3. Como é o seu dia, casa, trabalho e os cuidados com seu
filho?
Hoje
nós temos um quadro diferente do passado.
Antes éramos três (eu, meu filho e o pai), depois de um processo de
divórcio, passamos a ser só nós dois. Não foi fácil, mas sempre batalhei para o
bem estar dele. Me casei novamente e hoje vivemos muito bem. Rafael se dá bem
com meu atual esposo e os dois são amigos. Meu filho hoje sabe que preciso
dividir meu tempo entre a escola (meu trabalho), o comércio (onde trabalho
também com meu marido) e com ele. Levo-o para a escola de manhã, e vou ao
trabalho numa creche municipal aqui na cidade, fico com meu filho a tarde onde
fazemos atividade da escola, conversamos sobre tudo, organizo seus horários de
responsabilidades, como por exemplo: terapia com psicóloga no Centro de
Reabilitação Infantil nas quartas-feiras, aula de natação duas vezes na semana (coloquei
ele na natação para diminuir o grau de ansiedade e melhorar a respiração),
catequese aos sábados e passeio com a madrinha quinzenalmente, no finalzinho da
tarde, saio para trabalhar de novo (com meu marido no ponto comercial dele).
Essa tem sido a nossa rotina atualmente. Quando não posso acompanhá-lo, tenho
ajuda da minha família.
4. Conte como sua experiência positiva com Rafael pode
ajudar outras mães que estão passando por problemas e dificuldades com filhos
autistas.
Primeiramente,
eu gostaria de lembrar que nenhum autista é igual ao outro. Meu filho tem um
tipo de autismo mais leve. Mas há autistas com outros comprometimentos. Você
pode conhecer autistas incapazes de se comunicar, com estereotipias (movimentos
repetitivos) e muita dificuldade de expressar o que sentem, por outro lado, você
pode conhecer autistas verbais, muito inteligentes e capazes de ter uma vida
normal, estudar, trabalhar e até se casar. Não é fácil lidar com a certeza de
um diagnóstico positivo. Porém, o diagnóstico precoce ainda é a melhor forma de
ajudar um filho autista e quanto mais cedo começarem as terapias, mais chances
dele superar suas limitações e aprimorar suas habilidades. Não adianta ignorar,
é preciso ter calma, procurar ajuda e ter muita paciência, pois além das
dificuldades em lidar com um autista, ainda existe o preconceito que é o maior
obstáculo na luta pela inclusão seja na escola, seja na sociedade. Acima de
tudo, tem que ter muito amor envolvido, porque quem ama...cuida!
5. E como ele está hoje?
Hoje
Rafael é uma criança muito feliz, inteligente, sociável, superou estereotipias,
ecolalia (repetição de frases, palavras ou conversas), sua maior dificuldade
era socializar-se com outras crianças, hoje ele procura fazer amizades, porém
com interesses iguais e ainda não se sente confortável com crianças menores, mas
já é um grande avanço.
6. Como é ser mãe de um menino autista? Como é ser mãe do
Rafael?
Ser
mãe de uma criança autista, é encantador ao mesmo tempo que assustador. É um
aprendizado contínuo. Posso dizer que aprendo mais com ele do que ele comigo. É
a certeza de ter um amigo e companheiro para o resto da vida. Não posso esperar
dele a espontaneidade de um abraço e afagos carinhosos, mas com certeza frases
firmes, objetivas que possam confirmar seus sentimentos e ocasionalmente até
uma declaração de amor, sem cenas melosas, mas com abraços sinceros. Eu poderia
dizer que ele é como um troféu pra mim, mas seria injusto, uma vez que toda
esperteza, inteligência e a maneira única de ver as coisas, de compreender esse
mundo tão maluco, tão injusto às vezes, é mérito somente dele. Rafael é uma
criança incrível, costumo dizer que é meu presente de Deus.
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